Há quanto tempo! Cantámos. Fizemos amor. Os dois. Os vinte.
Tu amas-me? Não, não quero mais vinho. Beijei-te. Eu lembro-
me. Tinhas medo? Eu tive. Quando o chui berrou o meu nome
e o rádio explodiu. Depois deixaram-nos passar.
E os degraus ainda estão lá, cheios de pó e de pontas de
cigarros afogadas em leite.
Escuta... bate. O meu coração rebentou como uma granada.
Fiquei presa pelos cabelos. E tu dormias. Nu.
Que sede esta me estrangula os olhos e me tira
a serenidade que plantaste em mim, ainda ontem...
A mar te
poemas de juventude
15.5.17
30.11.15
calmaria
calmaria de bonança me inunda os braços de mar
já caídos sob a maré vazia do teu corpo
lua cheia numa madrugada suave e límpida
como água corrente
sussurrar de ramos floridos no outono
frases soltas e dispersas, soluçando nesta mesa
de telhas partidas
Ouvi-te. Cantavas no cimo da colina, com um
pássaro poisado no corpo mansamente belo e
transparente.
Queria viver assim, simples, crua, fluida.
Como uma estrela pendurada nos teus cabelos.
já caídos sob a maré vazia do teu corpo
lua cheia numa madrugada suave e límpida
como água corrente
sussurrar de ramos floridos no outono
frases soltas e dispersas, soluçando nesta mesa
de telhas partidas
Ouvi-te. Cantavas no cimo da colina, com um
pássaro poisado no corpo mansamente belo e
transparente.
Queria viver assim, simples, crua, fluida.
Como uma estrela pendurada nos teus cabelos.
19.3.15
à flor da água
páro
um instante
enquanto a lua sobe
e a noite cresce lenta e segura
páro um instante
e invento o teu perfil
à flor da água nua e murmurante
enquanto a lua sobe
e a noite cresce lenta e segura
páro um instante
e invento o teu perfil
à flor da água nua e murmurante
22.4.14
tudo cá dentro
Olha, quero ir. Quero tudo. Sinto-me escorregar
pela borda da cama, cair até ao fundo do mar,
afogar-me na espuma sádica da lembrança
de uma quinta feira queimada num cigarro
e num copo de Porto. E num corpo de mármore
tremendo no frio, gemendo no calor. Morto, enfim.
Não, não penses que me esqueci. Nadavas. Mentira,
era eu que nadava. Por entre as algas e a nafta
e os peixes mortos boiando na espuma amarela
daquele mar civilizado.
Sem mais nada para escrever, tudo cá dentro.
pela borda da cama, cair até ao fundo do mar,
afogar-me na espuma sádica da lembrança
de uma quinta feira queimada num cigarro
e num copo de Porto. E num corpo de mármore
tremendo no frio, gemendo no calor. Morto, enfim.
Não, não penses que me esqueci. Nadavas. Mentira,
era eu que nadava. Por entre as algas e a nafta
e os peixes mortos boiando na espuma amarela
daquele mar civilizado.
Sem mais nada para escrever, tudo cá dentro.
15.4.14
mar
Sopro morno de uma tarde de areia
no girassol de fogo dentro das coisas
Um beijo de pássaro para entreter o romance
das horas
Súbito
um arrepio no corpo e na vida
o suspiro cálido de um mar triste
19.4.13
tu sabes
corri pelo mar dentro e estavas lá
no infinito tocável como a música que respiro
tu sabes
vivo contigo
neste quarto escuro que é a minha vida a sós
sofres-me cá dentro, de vez em quando
no infinito tocável como a música que respiro
tu sabes
vivo contigo
neste quarto escuro que é a minha vida a sós
sofres-me cá dentro, de vez em quando
11.3.13
22.2.13
era uma vez
Era uma vez uma pétala
ou um mar
ou nada
O princípio, queria dizer
O princípio
Era uma vez um calor que transbordou
Ilha, pedra, canto
e um rio em flor dentro de casa
Um dia de azul
miragem
Era uma vez
era uma
depois mil
de uma vez
ou um mar
ou nada
O princípio, queria dizer
O princípio
Era uma vez um calor que transbordou
Ilha, pedra, canto
e um rio em flor dentro de casa
Um dia de azul
miragem
Era uma vez
era uma
depois mil
de uma vez
15.6.12
dia felino (1974)
fio de trovoadas incandescentes
na lã do trigo
beijando os pés de algodão
neste tremor embalante
do âmago.
mar de cerejas penduradas
num calmo torpor nu
de caracóis dourados nos dedos.
no êxtase de dois lagos profundos,
sonho
na vertigem colorida da descolagem
dia felino, dia azul de princípio de mundo
explosão de nascer de sol posto sob o corpo
de um deus
renascido da seiva
fervendo nas veias de uma árvore
escondida
da cidade tumefacta.
Redescobrir
constante
do brando e cru chamamento da mãe Terra
na forma de uma carícia
transparentemente nascida na boca,
sentida nos dedos,
amada nos cabelos da constelação
que tu és
e ninguém sabe.
na lã do trigo
beijando os pés de algodão
neste tremor embalante
do âmago.
mar de cerejas penduradas
num calmo torpor nu
de caracóis dourados nos dedos.
no êxtase de dois lagos profundos,
sonho
na vertigem colorida da descolagem
dia felino, dia azul de princípio de mundo
explosão de nascer de sol posto sob o corpo
de um deus
renascido da seiva
fervendo nas veias de uma árvore
escondida
da cidade tumefacta.
Redescobrir
constante
do brando e cru chamamento da mãe Terra
na forma de uma carícia
transparentemente nascida na boca,
sentida nos dedos,
amada nos cabelos da constelação
que tu és
e ninguém sabe.
27.2.12
3.2.09
jardim da sombra
toca-me de mansinho e leva-me pela mão
ao jardim onde embarcámos um dia
no silêncio da chuva
percorre-me na sombra
e sê comigo
num momento eterno de sorriso
ao jardim onde embarcámos um dia
no silêncio da chuva
percorre-me na sombra
e sê comigo
num momento eterno de sorriso
19.5.08
Em breve
Por que esperas? Só um passo.
Só um passo. Estamos todos.
Em breve o horizonte se espraiará
até aos confins da consciência.
Em breve te sentarás no cimo do farol
num dia claro de primavera.
Seguiremos de mãos dadas.
Só um passo. Estamos todos.
Em breve o horizonte se espraiará
até aos confins da consciência.
Em breve te sentarás no cimo do farol
num dia claro de primavera.
Seguiremos de mãos dadas.
18.2.08
os pássaros e as cobras
Fúria cósmica que vem das raízes. Espasmos de
terror e de suor viscoso dentro de tudo que nasci
e morro a cada hora. Em cada gesto. Em cada grito.
Ondulantes vibrações escorrem-me dos braços, depois
de tantas noites de angústia cantada. No meio dos
pássaros e das cobras. E da areia movediça convi-
dando a cada esquina.
Tantas dores infundadas e vivas. Tantas garras de
lâminas. Tantas palavras choradas e ridas sem
repouso. Fúria de loucura nestes restos mortais
de um cadáver vivente que agoniza, sugando
a imanente felicidade da Terra. Coloridas taças
de veneno libertador. À espera de uma fonte
de água gelada escorrida das montanhas silen-
ciosas do desejo de alegria e paz. Como aguentar
este cavalo louco!
terror e de suor viscoso dentro de tudo que nasci
e morro a cada hora. Em cada gesto. Em cada grito.
Ondulantes vibrações escorrem-me dos braços, depois
de tantas noites de angústia cantada. No meio dos
pássaros e das cobras. E da areia movediça convi-
dando a cada esquina.
Tantas dores infundadas e vivas. Tantas garras de
lâminas. Tantas palavras choradas e ridas sem
repouso. Fúria de loucura nestes restos mortais
de um cadáver vivente que agoniza, sugando
a imanente felicidade da Terra. Coloridas taças
de veneno libertador. À espera de uma fonte
de água gelada escorrida das montanhas silen-
ciosas do desejo de alegria e paz. Como aguentar
este cavalo louco!
20.6.07
da terra
descalcei-me na noite
para sentir o pulsar da terra
fechei os olhos devagar
e acordei
do outro lado do espelho
para sentir o pulsar da terra
fechei os olhos devagar
e acordei
do outro lado do espelho
15.6.07
perfume de terra
sentindo-te
a boca húmida quase sem querer
apeteceu-me uma colina
um chão
perfume de terra
perfume de ti
e a colisão amorosa num cosmos de cabelos suados
mãos
tuas
percorrendo vales e rios
à procura do que sou
descobrindo-me enfim nos olhos de uma noite qualquer
desde que seja uma noite quente
e sem remorsos
a boca húmida quase sem querer
apeteceu-me uma colina
um chão
perfume de terra
perfume de ti
e a colisão amorosa num cosmos de cabelos suados
mãos
tuas
percorrendo vales e rios
à procura do que sou
descobrindo-me enfim nos olhos de uma noite qualquer
desde que seja uma noite quente
e sem remorsos
1.8.06
se tu viesses
eu só queria que viesses buscar-me
e me levasses ao cimo do monte
até que passasse este inverno
este silêncio de vaguear por mim
à procura do que falta
se tu viesses buscar-me
havíamos de colher malmequeres
e cantaríamos glórias ao Ser
e me levasses ao cimo do monte
até que passasse este inverno
este silêncio de vaguear por mim
à procura do que falta
se tu viesses buscar-me
havíamos de colher malmequeres
e cantaríamos glórias ao Ser
23.5.06
o corpo da terra
nos momentos em que o meu corpo é
o corpo da terra
eu queria fazer amor contigo
num fluir universal de raízes
o corpo da terra
eu queria fazer amor contigo
num fluir universal de raízes
4.4.06
sem corpo
amo-te sem corpo
nas mãos, no entanto
encontro-te
ilha, sol
areia morna para deitar o meu cansaço
a pouco e pouco
mar
em que mergulho à tua procura
nas mãos, no entanto
encontro-te
ilha, sol
areia morna para deitar o meu cansaço
a pouco e pouco
mar
em que mergulho à tua procura
24.2.06
porque o amor não depende
nunca serás tu
ou tu
foste talvez sempre Tu
ainda agora
e aqui no tempo sem tempo
a força é amor e eu sei
que o Amor Absoluto não depende
nem do tempo nem do espaço
porque o amor não depende
o amor É
ou não é
ou tu
foste talvez sempre Tu
ainda agora
e aqui no tempo sem tempo
a força é amor e eu sei
que o Amor Absoluto não depende
nem do tempo nem do espaço
porque o amor não depende
o amor É
ou não é
2.2.06
Sim
Sim, um espaço desfeito
um vácuo esparsamente preenchido
gotas suspensas
por cima de outros mundos
como girassóis
como espuma
... à procura, sempre
de uma ilha de coral nos olhos
de um banco de areia no corpo...
um vácuo esparsamente preenchido
gotas suspensas
por cima de outros mundos
como girassóis
como espuma
... à procura, sempre
de uma ilha de coral nos olhos
de um banco de areia no corpo...
21.11.05
trevo
acordei doce no corpo: ainda o musgo e a lua
ainda o tempo
do lado de cá do muro
sim, amor
é o fogo na semente e a terra nos pés
descalça
é o rio cá dentro e a brisa
ainda nós
a cada instante
trevo
ainda o tempo
do lado de cá do muro
sim, amor
é o fogo na semente e a terra nos pés
descalça
é o rio cá dentro e a brisa
ainda nós
a cada instante
trevo
24.8.05
Lago
Como é dolorosa, esta teimosia de sofrer passiva
o drama deste mundo que se queima
em cada monte de ervas verdes!
Dóis-me. Tu não sabes como eu sinto - sempre
esta mania de me convencer de que sofro.
É verdade. Queria-te aqui. Despido de memória.
Mergulhaste neste lago e eu lavei-te a boca e os olhos.
Depois vieste dormir com o coração no meu colo de mãe.
Vem outra vez. E outra. Eu dou-te um filho da natureza. Tu.
o drama deste mundo que se queima
em cada monte de ervas verdes!
Dóis-me. Tu não sabes como eu sinto - sempre
esta mania de me convencer de que sofro.
É verdade. Queria-te aqui. Despido de memória.
Mergulhaste neste lago e eu lavei-te a boca e os olhos.
Depois vieste dormir com o coração no meu colo de mãe.
Vem outra vez. E outra. Eu dou-te um filho da natureza. Tu.
fúria mansa
Olho-te. Não vejo nada, mas persisto. Falar. Gritar.
Deitada na relva ensopada em chuva e lama.
Misturar-me nela e ir por aí.
Olhos de vidro. Olhos fluidos! O teu corpo...
Não quero que vás.
Eu gostava de ficar assim, a dormir ao teu lado.
Teu lado? Uma pedra que cai do armário, um
tiro disparado da gaveta da cómoda. Deixem-me.
Não suporto mais isto.
Este amor, esta fúria mansa nos dedos que tocaram
os teus pulsos, ainda ontem.
Deitada na relva ensopada em chuva e lama.
Misturar-me nela e ir por aí.
Olhos de vidro. Olhos fluidos! O teu corpo...
Não quero que vás.
Eu gostava de ficar assim, a dormir ao teu lado.
Teu lado? Uma pedra que cai do armário, um
tiro disparado da gaveta da cómoda. Deixem-me.
Não suporto mais isto.
Este amor, esta fúria mansa nos dedos que tocaram
os teus pulsos, ainda ontem.
no quarto da Teresa
Obsessão: as rosas são verdes. Levanta os braços.
Cospe. Musgo negro que pintas o mar. Solavancos
e flores. Morte e café. São horas. A camioneta é
às sete. Podemos entrar? Acendo a luz. Tens um
belo corpo. E visto-me. Querendo agarrar-me aos segundos.
Teu cabelo, teus olhos, tua luva de sal e vodka. Fumo.
Vejo. Mãos mortas, no calor flutuante do quarto da
Teresa. Choras e gemes. Beijo-te. Sorris. Tens medo.
Para quebrar as portas são precisos punhos fortes.
Obsessão: o tempo parou. Falas no sonho.
Queres falar, mas não sabes. Soltas grunhidos
frustrados, lentos demais.
Cospe. Musgo negro que pintas o mar. Solavancos
e flores. Morte e café. São horas. A camioneta é
às sete. Podemos entrar? Acendo a luz. Tens um
belo corpo. E visto-me. Querendo agarrar-me aos segundos.
Teu cabelo, teus olhos, tua luva de sal e vodka. Fumo.
Vejo. Mãos mortas, no calor flutuante do quarto da
Teresa. Choras e gemes. Beijo-te. Sorris. Tens medo.
Para quebrar as portas são precisos punhos fortes.
Obsessão: o tempo parou. Falas no sonho.
Queres falar, mas não sabes. Soltas grunhidos
frustrados, lentos demais.
tens um belo corpo
Que sede é esta que me queima os olhos e me faz tremer
as mãos... Não, não digas. Não é verdade. Tédio. Só tédio.
Berros desamparados no fundo.
Os teus cabelos são loiros. Não, é o sol. É o tabuleiro
no chão e o fumo azul que corta os vidros da cama do Pedro.
Cala-te, não suporto essa voz que adivinho. Jornal dobrado.
Mais um dia, menos um dia. Limite viscoso no braço da cadeira
pendurada numa tecla do piano. Robots sensuais me afagam
os seios e guincham. Ouvi uma explosão, caixotes que
rebolavam pela escada. Eras tu, Pedro, de olhos vítreos
fixos no meu braço esquerdo. Onde a agulha se tinha enterrado.
Tens um belo corpo - fazes poemas. Não, não estou a chorar.
Mas tenho feridas nos ombros e os lábios inchados.
Tu não. Tu amas-me?
as mãos... Não, não digas. Não é verdade. Tédio. Só tédio.
Berros desamparados no fundo.
Os teus cabelos são loiros. Não, é o sol. É o tabuleiro
no chão e o fumo azul que corta os vidros da cama do Pedro.
Cala-te, não suporto essa voz que adivinho. Jornal dobrado.
Mais um dia, menos um dia. Limite viscoso no braço da cadeira
pendurada numa tecla do piano. Robots sensuais me afagam
os seios e guincham. Ouvi uma explosão, caixotes que
rebolavam pela escada. Eras tu, Pedro, de olhos vítreos
fixos no meu braço esquerdo. Onde a agulha se tinha enterrado.
Tens um belo corpo - fazes poemas. Não, não estou a chorar.
Mas tenho feridas nos ombros e os lábios inchados.
Tu não. Tu amas-me?
amanhã ou depois
Nasci nos carris de mármore deste telhado de bruma.
Uma aranha me abriu os braços quentes de erva queimada e me apontou o lugar.
Ali! Não voltes ao barco.
De hastes de musgo, o leão ainda está vivo.
Entrelaça todos os caminhos e morre com uma gota de luar nas mãos.
Não, esta abelha azul veio do meu ventre de água. Sai daqui com um sorriso pálido nos olhos. Mas vem amanhã
ou depois. Colher as constelações que ainda não te dei.
Amanhã ou depois. Um paraíso perdido no meio do nevoeiro
e das balas.
Uma aranha me abriu os braços quentes de erva queimada e me apontou o lugar.
Ali! Não voltes ao barco.
De hastes de musgo, o leão ainda está vivo.
Entrelaça todos os caminhos e morre com uma gota de luar nas mãos.
Não, esta abelha azul veio do meu ventre de água. Sai daqui com um sorriso pálido nos olhos. Mas vem amanhã
ou depois. Colher as constelações que ainda não te dei.
Amanhã ou depois. Um paraíso perdido no meio do nevoeiro
e das balas.
CHILE! SETEMBRO, 11
a besta é toda uma
e hoje ouvi-te gritar, irmão
e quis ser mãe e amante
numa esperança desesperada de luta
a besta é toda uma
e ouvi-a ganir hoje, irmão
esmagando os nossos filhos
com patas de aço e veludo
a besta é toda uma
mas hoje, como ontem, iremos para a frente
e as árvores hão-de florir todo o ano
no mundo que havemos de conseguir
e hoje ouvi-te gritar, irmão
e quis ser mãe e amante
numa esperança desesperada de luta
a besta é toda uma
e ouvi-a ganir hoje, irmão
esmagando os nossos filhos
com patas de aço e veludo
a besta é toda uma
mas hoje, como ontem, iremos para a frente
e as árvores hão-de florir todo o ano
no mundo que havemos de conseguir
eram belas as vozes
eram belas as vozes, no fundo do tumulto
água e pão escorriam pelas masmorras da inquietude
abafada pelo eco do medo
mansas folhas de azinheira nova
sem dúvida
e um corpo nu
enfim
firmemente nu
como lâmina de guilhotina gritante
água e pão escorriam pelas masmorras da inquietude
abafada pelo eco do medo
mansas folhas de azinheira nova
sem dúvida
e um corpo nu
enfim
firmemente nu
como lâmina de guilhotina gritante
fuga
deixem-me ficar aqui
dormir
e saber que o comboio me espera
no lago
no silêncio assombrado
dentro da boca
Partir
"poeticamente habitar"
comer a terra
e subir às árvores
no desespero da fuga
Estar só
com medo da solidão
E viver aí
saboreando o azedo visceral
da inquietude
dormir
e saber que o comboio me espera
no lago
no silêncio assombrado
dentro da boca
Partir
"poeticamente habitar"
comer a terra
e subir às árvores
no desespero da fuga
Estar só
com medo da solidão
E viver aí
saboreando o azedo visceral
da inquietude
vigília
suportar a vigília com duas rugas em vez de olhos
levitar pelas calçadas adormecidas
durante as noites que faltam
rangendo musicalmente com um cárcere na memória
e um mar salgado na garganta
quereria abraçar uma viola e torcê-la
para que pingasse um choro furioso
como vento
levitar pelas calçadas adormecidas
durante as noites que faltam
rangendo musicalmente com um cárcere na memória
e um mar salgado na garganta
quereria abraçar uma viola e torcê-la
para que pingasse um choro furioso
como vento
Natal
Pim.
Som de cacos verdes. Transparentes.
Sinos de estrelas no ar.
como gaivotas na doca
Gestação. Nascer. Estar.
Amo-te.
Gémeos nascemos. Mas separados.
Beijos de encontro. Enfim, sós!
Natal. Corações quentes.
Solitários.
Sabes, eu gosto de ti.
Vamos ver as luzes.
Vamos para a chuva.
Som de cacos verdes. Transparentes.
Sinos de estrelas no ar.
como gaivotas na doca
Gestação. Nascer. Estar.
Amo-te.
Gémeos nascemos. Mas separados.
Beijos de encontro. Enfim, sós!
Natal. Corações quentes.
Solitários.
Sabes, eu gosto de ti.
Vamos ver as luzes.
Vamos para a chuva.
noite esquecida
depois saí para a chuva
sozinha e improvisada
corri perdida de amor
no corpo
nos olhos
na noite esquecida do betão
e de mim
desvaneço agora o sorriso e as lágrimas
sou folha no vento, as mãos abandonadas
do lado de cá da vida
sozinha e improvisada
corri perdida de amor
no corpo
nos olhos
na noite esquecida do betão
e de mim
desvaneço agora o sorriso e as lágrimas
sou folha no vento, as mãos abandonadas
do lado de cá da vida
e eu não sabia
possível como vento foste tu
e eu não sabia
que são fogo teus inventos
tua ausência
teus momentos controlados
e eu não sabia
que são fogo teus inventos
tua ausência
teus momentos controlados
argila
teu corpo argila minha falta
que de nós apenas a ausência
do sopro o pálido gesto
no rio a lívida certeza
que de nós apenas a lembrança
que de nós apenas a ausência
do sopro o pálido gesto
no rio a lívida certeza
que de nós apenas a lembrança
lótus
creio-te cântico silencioso de raízes
olhar aberto à chuva
creio-te semente, presença sublime de ser
é por isso que eu te amo
coração lótus em flor
olhar aberto à chuva
creio-te semente, presença sublime de ser
é por isso que eu te amo
coração lótus em flor
a ouvir o rio
não quero descer
sinto-me bem assim
deitada na relva húmida
a ouvir o rio
queria dizer-te
que tenho a certeza
sinto-me bem assim
deitada na relva húmida
a ouvir o rio
queria dizer-te
que tenho a certeza
maré vazia
em ti semeei
silencioso afago
e te amei os lábios
nus
ingenuamente
desprendida me prendi
e me perdi silenciosa
no rebentar das ondas em levante
no teu vento de espuma turbilhão
no esquecimento de nós nos encontrei
à beira mar um dia
amantes tão ao longe
e cantei
maré vazia
silencioso afago
e te amei os lábios
nus
ingenuamente
desprendida me prendi
e me perdi silenciosa
no rebentar das ondas em levante
no teu vento de espuma turbilhão
no esquecimento de nós nos encontrei
à beira mar um dia
amantes tão ao longe
e cantei
maré vazia
adormecer
agora
só me resta ir ter contigo
para adormecer em ti
e assim esquecer
este meu sono das horas
só me resta ir ter contigo
para adormecer em ti
e assim esquecer
este meu sono das horas
o eco do tempo
sentei-me nas pedras
no meio das oliveiras
a ouvir o eco do tempo
ao longe na serra
uma voz clara e transparente cantava
uma música triste
e lembrei-me dos dias
em que a terra cheirava a hortelã
e o vento a maresia
no meio das oliveiras
a ouvir o eco do tempo
ao longe na serra
uma voz clara e transparente cantava
uma música triste
e lembrei-me dos dias
em que a terra cheirava a hortelã
e o vento a maresia
só uma vez
parte comigo
só uma vez
toca-me no ombro
para um passeio de barco sem vento nem sol
num dia cinzento de verão
chama-me no campo das oliveiras
e das pedras do rio manso
onde embarcámos um dia no silêncio da chuva
parte comigo
só uma vez
só uma vez
toca-me no ombro
para um passeio de barco sem vento nem sol
num dia cinzento de verão
chama-me no campo das oliveiras
e das pedras do rio manso
onde embarcámos um dia no silêncio da chuva
parte comigo
só uma vez
da noite
murmuras segredos da noite nos olhos
e, no toque,
te sorrio
à procura, sempre
do outro lado de mim
e, no toque,
te sorrio
à procura, sempre
do outro lado de mim
Subscribe to:
Posts (Atom)